domingo, 2 de outubro de 2011

Darstellungssystem

"Se a teoria da arte se contentasse com isso, se se considerasse satisfeita com a recompensa proporcionada por uma busca sincera, nada teríamos contra ela. Porém, quer ser mais. Não almeja ser, tão-somente, uma busca para encontrar leis: afirma haver descoberto leis eternas. Observa um certo número de fenômenos, observa-os segundo alguns critérios gerais e deduz, disto, leis. Tal é correto pela simples razão de que, infelizmente, não parece ser possível de outra maneira. Mas, nesse ponto, começa o erro: chega à falsa conclusão de que essas leis, por corresponderem aparentemente aos fenômenos observados durante certos momentos, serão válidas também para todos os fenômenos que se produzirem no futuro. E eis aqui o mais funesto: acredita-se haver encontrado uma medida para o julgamento da obra artística que seja válida para as obras de arte futuras. E os teóricos, mesmo sendo constantemente desautorizados pela realidade, quando consideram antiartístico "o que não soa segundo as regras", ainda assim "não abandona a ilusão". Pois o que ocorreria se não possuíssem, ao menos, o monopólio da beleza, já que a arte não lhes pertence? Qual seria o resultado se, para todos e definitivamente, ficasse claro o que - mais uma vez - é aqui demonstrado? O que lhes significaria o fato de que, na realidade, a arte transmite-se e propaga-se através das obras artísticas e não por regras de beleza?"
SCHOENBERG, Arnold; Harmonia; Trad. Marden Maluf - São Paulo: Ed. UNESP, 2001, p. 43.