segunda-feira, 4 de março de 2013

Into the Wild

Com a idade não vem a sabedoria, mas a exaustão. O velho é, por definição, um esgotado e não só um fatigado ou um cansado ou, ainda, um desanimado; sua resolutibilidade não é potência, mas imobilidade para a criação. Esgotar-se é não ter mais consistência, substância ou materialidade para compor alguma outra coisa que não o que já está aí, o que já está posto e composto. Ser velho - de corpo, de alma e de espírito - é não mais possibilitar, é não mais criar os espaços nos quais os jovens vão se alocar e se deslocar. O jovem, por sua vez, é aquele que confunde felicidade com liberdade, e esta com quantidade de possibilidades ao alcance da mão (a premissa da modernidade e do conforto liberais). O vitalismo revolucionário talvez se encontre no entre-termo dum e doutro, sem cair numa adultez sisuda. Christopher não "mudou o sistema" mas a ideia do mesmo não consistia nesse "universal", neste generalíssimo "salvar o mundo". Quem lida com esses universais é a Filosofia (quando a mesma se pretende fundacionista e eterna), o Estado (quando o mesmo se pretende ditatorial), a Universidade (quando a mesma se pretende locus da verdade), o Mercado (quando o mesmo se apresenta como modulador de nossos sistemas de troca, aí inclusas as afetivas), a Família (quando se pretende a modalidade padrão para se organizar uma casa) ou qualquer outro domínio que se pretenda normativo e absoluto; o personagem, "real" e conceitual, não quer "fazer a diferença" mas, tão somente, não fazer parte dessa estrutura a qual todos condenam; e, principalmente, quer ser o sujeito dessa verdade crítica que todos enunciam mas que ninguém tem a coragem necessária para encarnar (Diógenes, o limite da prática filosófica). "Mudar o sistema", como dito, é um universal, e a afronta a este sistema - não através dum discurso coerente (logos), mas através dum exercício de vida constante (ergon) - não pode ser uma guerra de mundos, um outro universal, nem tampouco um "individual", mas, antes, uma singularidade. O que se têm, aí, não é um cara que se achega e diz "Eu sou contra isto", mas alguém - sim, ainda há sujeito, mas um outro sujeito, não mais transcendental - alguém que se achega e produz um modo de existência que não é o "modo normal", e este modo outro pode se afigurar, sempre como uma possibilidade e nunca uma certeza (ou uma probabilidade), como uma alternativa mais sadia à vida que, atual e virtualmente, se leva nas costas. Em oposição radical ao burocrata na selva de pedra, o cínico louco, nu e cru passeando pela praça. Ao invés da verdade adaptada ao mundo, opta-se pela verdade encarnada no sujeito, ainda que levá-la a sério seja chegar à beirada da existência e mergulhar, enfim, na morte. O vitalismo revolucionário é um "mortalismo".


Nenhum comentário: