sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O Jogo do Contente

Não existe, creio eu (e como é bom crer...), nenhuma vivalma que não se encante à alegria sardenta da menina Pollyanna! Para os que não a conhecem (e nestes eu não quereria crer...), procurem torná-la presente em suas vidas o mais urgente possível!!! Uma dose deste tônico não faz mal a ninguém; cura-nos até de nós mesmos, acreditam!?
Pollyanna é um romance estadunidense do começo do século passado, e - façam caras e bocas, agora! - alveja crianças e garotas. Sim, pessoas! Estou falando de literatura infanto-juvenil feminina! Li recentemente o romance (e sua primeira continuação, o Pollyanna Moça...) e faço aqui minha segunda confissão! Chorei como um bebê (ou uma criança, ou uma garota...) em partes certas da narrativa. Nem o jovem Wherter ou o velho Fausto conseguiram lágrimas tantas. Coisa de criança, mesmo...
Não vou fazer sinopses. Caso queiram saborear a história, leiam a história mesma. Eu, mesmo, não conseguiria recriar o sorriso de Pollyanna em alguns poucos parágrafos. Leiam a história e deixem que Pollyanna se crie para vocês! Minha persona só saberia exagerar pois, sem exagerar - diria o Padre - eu estaria mentindo! Prefiro, assim, exagerar - gerar para fora, criar para além - à minha própria maneira!
Falemos, em primeiro, da tia Polly. Bondosa, bela e justa, é verdade - como todo bom platônico deve ser - mas igualmente imperativa, casmurra e estreita! Bondade, beleza e justiça da ordem do categórico, do que deve ser feito. Dever, aliás, é palavra séria para Polly Harrington. É seu chavão, sua ladainha litúrgica, seu ritornelo existencial. Um dever organizado, dever do pré-visto, do incontestável, do esperado.
A Srta. Harrington, no entanto, não esperava que sua jovial sobrinha entrasse, in-comodasse e re-comodasse tanto sua vida. E, desde que Pollyanna chegou à mansão dos Harrington, Polly se encontra em situações imprevistas, inusitadas, inesperadas. Portas a bater, janelas abertas, casa iluminada. Tudo por causa de um tal jogo do contente; e deste jogo terei de falar.
O pai de Pollyanna, pastor evangélico, era muito pobre, vivendo e sobrevivendo graças a doações. A menina, que esperava ganhar uma boneca como presente, recebeu um par de muletas. Chorava por estar precisando de uma boneca, não dum par de muletas! Não conseguindo conter lágrimas - pobre Pollyanna - seu pai a consolou de forma criativa. Ela devia ficar contente - disse - justamente por não precisar das muletas. E foi assim que o jogo se deu pela primeira vez.
Toda vez que algo de ruim acontecia à Pollyanna, ela via o que tal tragédia carregava de bom, e ficava contente por isso! Pollyanna vivia o jogo do contente e o ensinava, propagava, demonstrava. Não como dever, mas como poder! Não ensinava com letras, sermões e moralismos afins, embora utilizasse a palavra em demasiado. A menina transbordava o jogo do contente!
O que deve ser salientado na menina, em seu jogo, no romance, não é a tal lição de otimismo que o resumo da contra-capa pretende vender. A novidade do jogo é - justamente! - a novidade. É a abertura dentro do sistema fechado, é o imprevisto dentro das previsões, é a invenção de novas regras para o jogo-de-si! Talvez por isto as crianças nos soem tão irritantes. Fogem a qualquer programação nossa! Pulam por sobre nossas normas, correm de nossos limites, pisam em nossos mandamentos... E riem!!!
Polly Harrington e Pollyanna. Um Platão bem Kantiano e um Sócrates ácido de tão Nietzscheano. A forma da estrutura e a força da entropia. A rotina do relógio e a hora do recreio. A resolução do problema e a traquinação que cria o mesmo. Adoro dualismos, mas acho que já chega. Chega de escrever e representar o jogo do contente. Jogo que é jogo deve ser jogado! É presente, no presente, como presente...

2 comentários:

Felipe J. R. Vieira disse...

Será que posso me candidatar a próximo leitor de Pollyanna, depois que lerem este texto muitas pessoas lhe pediram emprestado =D.

Não tenho nem o que falar, simplesmente que tentarei jogar um pouco deste jogo, deve ser bem divertido ^^.

Ahh, como "diria o padre" heheh, cadê a referência kkkkkkk

Até breve ...

Mairla disse...

eu quero ler também! to na fila de empréstimos viu?

achei lindo quando vc disse que chorou, pq eu choro que só lendo livros infantis. eu os acho as coisas mais lindas e divertidas! leio com o maior prazer do mundo. e acho que vem do pouco menina, do pouco criança que temos e não conseguimos arrancar.

e há quem diga que não goste ou ache ruim neh? mas o bom é transbordar, passarpelas regras e normas, ultrapassar limites e inventar. invenção de si!
e o irritante das criança deve ser isso mesmo, pq elas têm essa capacidade com muita naturalidade e espontaneidade e nós não! e isso nos irrita! e pra que sejamos assim temo que tomar consciência porque já estamos cegos, cegos às vezes até intuitivamente!
estranho né?

é bom ser menina. sou uma criança boba, às vezes, e não nego. é bom chorar lendo menino maluquinho ^^
hahahaha

;*