sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

Sempre achei bonito o clima das grandes academias do saber. Sócrates nas Praças, Platão nos Templos, Aristóteles em seu Timeu! Sim, gosto de coisas antigas, de nostalgias e de passados, pois eles ainda duram em nós. Penso na atmosfera criada quando uma galera bacana se junta - seja na praça do heleno seja no laboratório de Cartesius - para construirem coisas igualmente bacanas. Produção de conhecimento como produção de vida. Saber como sabor! Pensamento teórico transbordando em ação prática. Ação na pólis. Posicionamento frente ao mundo. A escola do tempo livre. E é nesse aparente entrecortamento de frases curtas que situo minhas intuições: a sintaxe, a geometria analítica, a primeira guerra mundial, a cartografia geográfica, o movimento retilíneo uniforme... Inventos e percepções de uma galera boa que se lança, se joga, se abre.
No ensino médio, lembro-me, estudava todas estas supostas filigranas com o tédio do menino a assistir jornal e futebol com o seu pai. O menino quer ver desenho, pois é isto que toca o seu espírito! Olhava, eu, para o quadro e via nele figurados aspectos de uma vida que não era a minha. Olhava para os lados e via que aquela também não era a vida de meus convivas. De quem era aquela vida, então? Do professor, não era! Ele também parecia querer sair dali o mais rápido que suas pernas possibilitavam. Daí, falaram-me do vestibular...
Como a possibilidade dum ensino superior - atentem! Ensino Superior! - está restrita a poucos, coloquemos estes no coliseu. Deixemo-los a se degladiarem e, aqueles que sobreviverem, recebem a coroa de César. Triste e risível, ao mesmo tempo. Circo sem pão! O ensino de base - ensino Fundamental! Atentem de novo! - fica destinado não a criar fundamentos angulares para os brincantes, mas a prepará-los a um ensino mediador - médio! - entre a infância estulta e a maturidade do trabalhador. O Ensino Fundamental cria bases sólidas para o Ensino Médio que consiste, tão somente, numa preparação para a sanguinolência do vestibular. Não se aprende a criar, inventar e formular; apenas a responder.
O Ministério da Educação precisa de um dispositivo para aferir a qualidade do ensino nas instituições de nível superior, o que ditará o fluxo de verbas a serem destinadas pra cá ou pra lá. Até aí, tranquilo (e sem trema). Mas pensemos o ENADE! Provinha objetiva - de a até e - que quer medir minha sabedoria. Ou - pra amenizar - meu "desempenho". Que é o ENADE senão um retorno ao circuito exposto? Tal qual uma continuação hollywoodiana, a narração permanece idêntica; só os efeitos especiais que dão um caráter de maior grandeza à situação.
O circo volta a lotar. Ao invés de indivíduos, entidades! Agora são instituições que batalham pelos prêmios do Circo e pela coroa dos louros. Assim como a escola mediadora transforma-se em preparação para provas e mercadológicas, o ENADE se figura, a minha pessoa, como abertura para transformar nosso ensino superior, nossa galera bacana, num recinto de preparação de sujeitos-cadetes que não saboreiam conhecimento. Homens que respondem bem, mas não sabem levantar interrogações novas! O Curso do pensamento se fecha, voltado a provinhas, concursos e exigências capitalísticas. E quanto dinheiro que vem e que vai!!! Sejamos palhaços e saibamos tocar fogo nesse circo! Boicotemos! Apóio este grito. Façamos a prova! Também boto fé neste brado. De um lado ou de outro dessa dicotomia ingênua e pueril, o que não aceito é a inocência. Que ninguém ouse lavar as mãos para o sangue derramado. Pensando melhor, digo que até concordo com o ficar-em-cima-do-muro. A visão de lá até que é legal. A política da neutralidade. Recoloco meus termos, então: sejamos esquerdistas, reacionários ou neutros, tanto faz! Mas sabendo e saboreando o que - silenciosamente - estamos fazendo...

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