domingo, 28 de abril de 2013

"E se fosse com você?"

Dando continuidade à série "comentários escrotos a favor da redução da maioridade penal", é visível o quanto o sujeito do enunciado finge confundir justiça com vendetta na sua proposta de reforma penal. "Se fosse comigo", sou levado a responder, "ficaria infantil e egoisticamente injuriado, furioso e sedento para que o filho da puta pagasse, de alguma maneira, pelo que me fez passar". Certo; mas daí afirmar que a minha meninice de "dar o tapa de volta" possa ser o fundamento e o modelo para a organização da sociedade civil e de um Estado de direitos é forçoso demais. Em verdade, o que se quer neste movimento de equivalência da vingança (aritmética) com a justiça (justeza, geometria) é infligir num outro a mesma violência que recebemos deste mesmo outro, e isto sem que recebamos efeito de retorno algum, sem que sejamos indiciados por isto e sem que corramos o perigo de sermos violentados de volta, já que, agora, a nossa vingança pessoal foi legitimada, foi transformada em política pública. O discurso inicial é a denúncia de que a redução da maioridade penal não é justa, e que o seu sujeito, sem-saber-sabendo, sem-querer-querendo, quer ser Rei, quer agir e fazer da sua ação a lei geral (um kantismo iluminista tornado monarquia absolutista). O indivíduo desejoso de ser o próprio Estado. Nunca a expressão "microfascismo" fez tanto sentido quanto aqui, quanto agora...

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