quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Spiral

Você está acompanhada, mas quem liga!? Continuo a te mirar com olhos de vidro, como que tomado por uma esperança santa de participar do seu mundo. Delírio fanático, sei disso. Mas você não para quieta, mulher! Mulher com cara de criança. Ou uma criança que, de contrabando, entrou num corpo de gente grande. Não importa: suas mãos pequenas te denunciam! Lá e cá, cá e lá. Gesticulam, apontam, zunem. Sua boca fala pouco e - abro o jogo - não entendo muito o que ela quer. Suas mãos é que não param de me dizer coisas e coisas e mais coisas. Num movimento brusco, quase violento, você me assusta. Percebo sua cara de gozo. Ri, pode rir! E, agora, você levanta! De pé, a boca permanece fechada mas as mãos resolvem se abrir, talvez querendo afastar qualquer aproximação indevida. Percebo um tique sutil nos seus lábios. Algumas idéias começam a se tecer, em mim, e começo a flutuar. Você senta. Levanta de seu banco, mais uma vez, e senta de novo. E suas mãos se calam. Disperso pelo silêncio, sou forçado ao pouso. Os seus convivas começam a falar, agora. Belos discursos, mas maduros demais. São adultos, creio. Suas mãos proseiam, mais uma vez e - de punho em riste - socam o armário à sua frente! Levo outro susto. E outro. E mais outro! Começo a ficar desconfortável. Penso eu que a mulher deva ser louca. Mas talvez ela o seja porque eu pense por demais. Os dedos de menina começam a dançar. Balé russo, valsa vienense, rock and roll, fusion! A dança ganha velocidade, mais e mais. Celeridade demais, diz o maior dos dromólogos. Pergunto-me o porquê de tudo isto. Porque ela pode, a provável resposta! Criaturinha insuportavelmente cativante, essa mulher. As luzes acendem e todos vão embora. Cansado, demoro a partir. Vou-me. Mas volto, qualquer dia desses...

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