quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Fofoca e pensamento

Há um ou dois meses, o músico Lobão foi tomado pra Cristo (ou pra Belzebu), tomado como a encarnação da extrema direita, rancorosa, velha, ressentida, amarga, desgostosa com o que há etc., e exorcizado por isso; agora, é Dinho Ouro Preto, o seu demônio especular, que, cara, encarna a esquerda-que-tudo-problematiza, que, cara, critica a política parlamentar, que, cara, pede pra gente votar melhor e, cara, nos joga isso em nossa própria cara, cara.

Exponho: pensar um estado laico não envolve, simplesmente, a exclusão do religioso no âmbito da política, mas, isto sim, a exclusão de todo pensamento binarista que pense os problemas da política em termos de "lados" e de "sujeitos".

Se "Lobão" merece críticas é por encarnar um determinado "modo" de agenciar a política (direita rançosa); se "Dinho, o cara" merece críticas é por encarnar um "modo" de agenciar a política (esquerda lalante) igualmente (ou diferentemente) danoso ao pensamento e à política. É mister esquecer os sujeitos e focar os modos e suas consequências. Discutir em termos de "indivíduo" não é pensar a política, mas "fofocar"; fofoca com um mínimo de nível, verdade, mas ainda assim fofoca. É o registro do "viu que fulano fez isso e falou aquilo?"; se a abordagem do problema se resumir a Dinho", "Lobão" ou a qualquer outro Zé, se o pensamento encará-los tão só como "pessoas", a coisa não anda. 

Nada, nada mesmo, contra a fofoca; mas que ela não passe como "análise política" ou "exercício de pensamento", que ela não se passe por ouro sendo apenas metal comum.



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