sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Do Ciúme

Muitos personagens já me convenceram das benéfices da paixão: Platão e Nietzsche, Kierkegaard e Heidegger, Goethe e Vinícius de Moraes. É na paixão que o ego-ente-coração constata sua finitude. Seus limites e de-limites! Percebe-se grão, gota, ponto. E é um outro alguém - um certo alguém! - que lhe passa isto na cara! Tapa!!! É este outro em específico que mostra nossas potências adormecidas, ilumina nossos cômodos desconhecidos e catalisa nossas reações de individuação. O Outro já chega "chegando", impondo presença nos nossos domínios e alargando um pouquinho mais de nossos territórios existenciais. Saimos de nós e vamos para uma lógica outra, um mundo outro, um amor outro, que não é só amor-de-si, mas um amor-para-si, amor-para-além-de-si. Com o Outro, pelo Outro, no Outro!
Nem sempre - e isto nos é por demais sôfrego - somos o Outro do Outro! Nem sempre causamos a trans-formação naqueles que tanto nos trans-formaram. Nem sempre há co-relação na relação. É a cena do cavalheiro distinto que dá tudo do mundo e - mais importante - de si para a realização do Outro; o cavalheiro, no entanto, percebe - ao deixar sozinha sua dama enquanto lhe prepara uma bebida - que ela continua bela, altiva e sorridente mesmo em sua ausência, que seus decotes, caras e bocas continuam a massagear a retina de outrem, que não ele. O cavalheiro percebe - oh, drama dantesco! - que a dama pode ser feliz sem ele. Ela, ao contrário dele, existe sem sua contraparte, e isto lhe dói! Dói uma vez, pois o cavalheiro re-sente seus in-cômodos; dói uma segunda vez, pois percebe que a dama não se sente muito in-comodada com a sua presença ou ausência; dói, ainda, uma terceira vez, pois - mesmo sendo mentira - ele não pode mais viver sem ela. E, mesmo que pudesse, não quereria!... Não quereria!...

4 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Meu canto, meu cantinho. disse...

Um em muitos desamores sofridos e milhões de pessoas e amores, se o amor é inutil ou apenas um "susto" o que somos nós? Apenas resultado do acaso, simplemente inutilidades?
Não estou falano de paixões, posso dizer que paixão é o estágio máximo da loucura, porém o amor resume-se em vida. Literalmente vida e vida é tempo. Logo quem nunca ama(ou) ou ou fala(ou) de amor, não vive, pois o amor resulta no ser. Todos somos amor. A fulga é a paixão, e você sabe por que!;)
23 de Fevereiro de 2009 12:22

Felipe J. R. Vieira disse...

Tratado da natureza do Ciúme!!! =p

Apoio plenamente suas palavras!

Só peço para ter cuidado com o desejo de posse, a virtude corrompida. Acredito que existimos sós, no entanto somos modificados a todo momento, mudar é necessário, causar mudança, aí já é outra história!!!

Até mais!!!

Boa sorte em sua jornada.

Carmem disse...

Tratado da natureza do Ciúme!!! =p [2]

Se sempre saímos diferentes de um encontro por mais simplório que este possa parecer, como não sair diferente de um amor? Talvez não seja questão de intensidade nem de obrigatoriedade quando falamos em mudança. Uma vez que o tempo dura, ela acontecerá ao seu tempo.