segunda-feira, 16 de março de 2009

O Cínico

Este post deve ser lido - recomendo! - como uma continuação de Matemáticos, Engenheiros e Técnicos. Este último, inclusive, é um des-envolvimento de Ingênuos e Irônicos, expresso e impresso num tempo de outrora, mas um tempo que ainda dura em mim...

Espero ter deixado claro - ou, ao menos em implícito - que nenhum dos personagens conceituais apresentados re-presentam categorias puras e tipológicas, nas quais podemos colocar os sujeitos e rotulá-los para toda uma eternidade. Eu quis presentificar, isto sim, a capacidade inventiva, motor das revoluções, e a tendência repetitiva, estratificadora da sociedade, ambas imanentes a todo humano. É inegável que existem homens, tais e quais, mais ácidos ou básicos, demolidores ou construtores, excêntricos ou centrais. Isto não o nego. Sou contrário, apenas, a uma condenação perpétua sobre serem os homens isto ou aquilo!
A proposta desta pequenina discussão é pensar o Irônico, o Matemático, o Socrático levado a seu extremo. Como funcionaria este agente do caos, este homem-devir, este puro fluido? Como re-presentar um homem que é pura presença!? Peço que entre em nosso palco - em nossa arena - mais uma figurinha helena: chamo Diógenes, o homem do barril, o cão! Diógenes é considerado "fundador" da "escola" Cínica, em filosofia, influenciado pelas idéias de Antístenes, Xenofonte e, principalmente, Sócrates, nosso irônico-imagem. Para uma boa compreensão de nosso novo personagem, cínico-imagem, contarei uma anedota.
Imaginem que um homem rico, muito rico, convida-nos, juntamente com Sócrates e Diógenes, para visitar a sua casa. Dentro da mansão, ficamos abismados com tamanho luxo, mas o que mais nos espanta é o trato do homem para com seus tesouros. Diz que não podemos tocar aqui, mexer ali, encostar acolá. Afinal, mui caras são suas posses. Sócrates, armado de ironia, tentaria travar um combate dialético com o aristocrata, para lhe mostrar a desimportância do ouro sobre os valores da alma, e coisa e tal, e blá-blá-blá... Já Diógenes daria uma gostosa cusparada na face do anfitrião, sob a justificativa de que aquele era o lugar mais sujo que teria encontrado na casa!!! E sairia do aposento como se nada tivesse acontecido!
Aprendemos, com Diógenes, que nem todos estão pré-dispostos ao diálogo. A ironia socrática, a retórica platônica, o moralismo aristotélico. Nada disto funciona diante dum humano sem Ser, dum homem-cristal, dum sistema fechado. O Cínico prefere cusparadas a palavras! O cínico é ainda mais destruidor que o irônico, posto que é brusco, violento e imprevisível por demais. Não é homem de idéias, palavras ou filosofias. Na verdade, o é! Mas ele transborda suas opiniões em forma de ação! Já que é para gastar saliva - diria o Cínico - que a gastemos da melhor maneira possível...

Um comentário:

Felipe J. R. Vieira disse...

Simplesmente sensacional, esperava a tanto tempo este cínico aparecer, mas pena que não trouxe guarda-chuva.
Gostei muito deste humor um tanto ácido do final.

Até mais!!!