sábado, 28 de março de 2009

Um Discurso sobre as Ciências - Prefácio

Podemos dizer que, em termos científicos, pertencemos muito mais ao rigor do século XIX que às potencialidades do século XXI. Se, por um lado, temos tecnologias e conhecimentos capazes de suprir as carências do hoje, os perigos da catástrofe ecológica, da guerra nuclear e inseguranças outras nos mostram os desolamentos do amanhã. Pergunta Rousseau: “o progresso das ciências e das artes contribuirá para purificar ou para corromper os nossos costumes?”. Uma pergunta básica – simples, mas essencial – que pode e deve ser ressuscitada e desvelada em diversas outras interrogações. Que motivos temos para substituir nosso saber vulgar e ordinário (que partilhamos com todos os homens e mulheres) pela ciência (produzida e apropriada por poucos)? Poderá tal ciência diminuir o abismo entre nossos discursos teóricos e nossas práticas reais? Todo esse saber acumulado pode – falando diretamente! – contribuir para a nossa felicidade?
A teoria representacional da verdade. A primazia da causalidade. O paradigma dominante. Boaventura - em Um Discurso sobre as Ciências - põe tais arquiteturas em xeque ao defender o conhecimento como uma construção social, ao caracterizar o rigor científico como um limite epistêmico e ao apontar a pretensa objetividade do saber-ciência como uma falsa e aparente neutralidade. Descrevendo os fazeres e saberes atuais, o autor identifica – nestes – uma crise, atribuindo às ciências sociais anti-positivistas um papel central na construção de uma lógica paradigmática outra, restabelecendo à ciência seus vínculos com o senso comum.
Quero apresentar - aos meus diletos amigos - uma resenha do livro cujo título encabeça nossa discussão. Pretendo, no entanto, separá-la em três partes, para melhor delinear seu sentido e, principalmente, trans-formar o que seria uma interessante mas exaustiva postagem, num escrito mais gostoso e - por isso mesmo - mais fácil de ser apropriado pelos senhores! Eis nossas fatias:
I. O Paradigma Dominante
II. A Crise do Paradigma Dominante
III. O Paradigma Emergente
Comecemos...

Nenhum comentário: