segunda-feira, 9 de março de 2009

A Cor do Paraíso

Passados 10 minutos de filme, comecei a chorar! Chorava, embora nada - em objetivo - pudesse ser eleito como causa deste meu transbordamento. A cena inicial nos chega angustiante, desoladora, sufocante. Cega-nos a falta de luz dos primeiros momentos e, quando abrem-se nossos olhos, ficamos desesperados! Descobrimos a realidade por detrás do nevoeiro. Uma realidade que não gostaríamos de vivenciar, uma coisa que não quereríamos experimentar, um algo que não desejaríamos possuir. Nosso protagonista é cego. E tão belo quanto contemplarmos a cosmovisão de outrem é destruir nossos próprios olhos no processo. A gritante piedade que sentimos pela condição de Mohammad vai, no decorrer da trama, dando lugar a uma certa inveja pela sua capacidade de ver o invisível. Mohammad toca, sente, vislumbra o mundo como nenhum outro visionário poderia fazer. Manipula a sua limitação e faz dela força. Cria um mundo independente da luz, fazendo de si mesmo sua própria luz. Lê o mundo pelos dedos, pelas mãos, pelo corpo. Mohammad é corpo!!! Vê o que não enxergamos, saboreia o que não sentimos, cria o que não percebemos. As pedras à beira do lago, os filetes de trigo na plantação, os passarinhos caídos do ninho. Todos os demais personagens, por mais simbólicos e essenciais ao enredo que sejam, não seram re-tratados, aqui. Não é preciso. Mohammad basta-se a si, pois é sozinho em seu mundo. Suas cores são outras, suas formas são outras, seu mundo é outro. O menino cego sabe que o verdadeiro sabor não é apreendido por olhares e, assim sendo, sabe saborear o cosmos como ninguém...

Um comentário:

Felipe J. R. Vieira disse...

Sentir de outra forma, ir além do visível, vislumbrar uma outra realidade. Esta é uma das melhores formas de se viver bem :D